Muitos entendem que fazendo assim, estaremos vivenciando o célebre chamado do Espírito de Verdade: "Amai-vos e Instruí-vos".
Sem querer fazer uso da crítica pura e simplesmente, temos notado que nestes encontros, as prioridades estão sendo dadas às questões científicas, filosóficas, propagação e movimento. Questões estas que concordamos serem necessárias a sua abordagem. Mas, perguntamos: e a questão Moral?
Por que estamos deixando-a sempre de lado? A finalidade primeira do Espiritismo não é a melhoria do homem em seus aspectos morais?
O Espiritismo em seu tríplice aspecto revela uma doutrina de fundamentos científico-filosóficos, mas, como o Cristianismo, de conseqüências morais. Que experimentemos a primeira sem nos esquecermos da última.
Com o entendimento espírita, passamos a ter a consciência de que o nosso crescimento moral nos é tarefa inadiável e intransferível. O Espiritismo nos coloca novamente frente à Jesus. E a exemplo de João Batista, devemos repetir para nós mesmos.
A Doutrina Espírita é uma Mensagem Divina, que fortalece a idéia de nos moldarmos a ela e não ela a nós. Só assim sairá de dentro de nós o homem novo que contribuirá para a construção de um mundo melhor, moradia de bons Espíritos.
Iniciando uma luta contra parte das imperfeições residentes em nossa vida, teremos a oportunidade de buscar a reforma moral que o mundo necessita para sua paz e progresso. A conivência com os erros, próprios da categoria evolutiva em que nos encontramos, faculta o alimento para a manutenção do atraso moral da sociedade. Não podemos ser homens de bem sendo coniventes com o mal.
A Moral - Recorremos a uma das questões de O Livro dos Espíritos, para definirmos o que é a moral.
Questão 629 - Que definição se pode dar da moral?
Resposta: "A moral é a regra da boa conduta e portanto da distinção entre o bem e o mal. Funda-se na observação da lei de Deus. O homem se conduz bem quando faz tudo tendo em vista o bem e para o bem de todos, porque então ele observa a lei de Deus".
Podemos observar também o conceito mais próximo do nosso tempo, dado por Joana de Ângelis: "São os princípios salutares de comportamento que resultam o respeito ao próximo e a si mesmo.
Observando estas regras, o homem pratica o bem e evita o mal".
O germe da moral cristã veio através de Moisés, espírito notoriamente enviado de Deus. Os dez mandamentos preparavam a humanidade para viver uma moral sublime no futuro. Deveria o homem deixar o poder da força para se interessar pelo poder do amor.
Chegou então o futuro e teve início com o trabalho do governador supremo do orbe terrestre; Jesus Cristo. Ele ensinou o amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Acrescentando também o "Fazei aos homens tudo o que quereis que eles vos façam"; esta é a lei e os profetas, afirmou.
Sua moral evangélica-cristã é a única saída para a renovação do mundo, para aproximar os homens e torná-los verdadeiramente irmãos, num clima de solidariedade e amor.
A moral do Espiritismo é a mesma moral do Cristo. O Espiritismo veio no tempo certo como prometeu Jesus, tendo como finalidade auxiliar a humanidade a não se distanciar e nem se desviar das diretrizes deixadas por Ele.
Com o Espiritismo a humanidade encontrará a chave da vida futura e abrirá as portas para a felicidade que tanto procura.
Os sinais que nortearão os homens a encontrarem esta chave devem estar naqueles que abraçaram sua causa; não por palavras, mas por exemplos que deverão dar.
Moral do Trabalhador Espírita
Allan Kardec, em "O Evangelho Segundo Espiritismo"; cap XVII - item 3, dá a forma ideal da moral cristã, tendo em vista o homem espírita, o que serve também ao trabalhador da causa. São as características do Homem de Bem.
Mais à frente, no mesmo capítulo, item 4, fala o Mestre Lionês, que devemos reconhecer um verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que empreende para vencer suas más inclinações.
Com isso, Allan Kardec deixa claro que não precisamos apresentar nenhum certificado de pureza, mas devemos apresentar sim, boa vontade e disposição para vencermos as imperfeições e angariarmos as virtudes que precisamos para vivenciar a moral cristã.
A Doutrina Espírita já é conhecida inclusive fora de seu meio, por ser uma doutrina que nada impõe. Mas embora não imponha condutas, não deixa de sugerir o uso do bom senso, quanto a melhor forma de aproveitarmos a existência. Com isso, devido ao atraso espiritual que nos cerca, tentando adequar a Doutrina à nossa forma de viver, nasceram dúvidas em nosso meio, sobre o que seria mais prejudicial em nosso comportamento. As conveniências humanas mais uma vez falam alto, aparecendo as velhas peias da materialidade que já nos prendem há milênios, contrárias à Espiritualização que nos espera.
No "Evangelho Segundo o Espiritismo", Capítulo XVII, item 10, há uma mensagem intitulada "O Homem no Mundo", ditada por um espírito protetor.
"Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob os olhos do Senhor e imploram assistência dos bons Espíritos. Purificai, pois, os vossos corações; não deixeis nele demorar nenhum pensamento mundano e fútil; elevai vosso espírito até àqueles a quem chamais, a fim de que encontrando em vós as disposições necessárias, possam lançar profusamente a semente que deve germinar em vossos corações e nele dar frutos de caridade e de justiça" - e acrescenta mais adiante, que não precisamos viver uma vida mística que nos mantenha fora das leis da Sociedade em que estamos condenados a viver. Vivei como os homens de vossa época, como devem viver os homens, afirma. Sacrificai as necessidades, mesmo as frivolidades do dia-a-dia, mas sacrificai-as com um sentimento de pureza que as possam santificar, encerra a entidade.
Ao nosso ver, estes tópicos do Evangelho deixam muito claro que a conduta de um espírita não precisa ser imposta, mas sim de conformidade com o bom senso.
Enfocaremos a conduta do trabalhador espírita em cinco aspectos:
>No meio Espírita
>Na Sociedade
>Na Família
>Usos e Costumes
>Vícios e Distúrbios
No Meio Espírita
Todo trabalhador espírita não deve perder de vista a recomendação do Espírito de Verdade; Amai-vos e Instruí-vos.
Nos dias atuais, vemos muitos acontecimentos negativos sobressaindo no meio espírita. Está faltando esta compreensão.
A caridade deve começar entre nós, auxiliando-nos uns aos outros. Somos espíritas e não Espíritos elevados. Os erros, as fraquezas são marcas que ainda carregamos conosco. Nosso estágio evolutivo é muito pequeno. Não devemos esperar perfeição, mas almejá-la.
Isso significa que temos que nos esforçar para oferecer ao mundo espiritual, o melhor material íntimo que conseguirmos. Não obstante, devemos compreender que cada um dá aquilo que tem e que pode dar.
As reuniões, mesmo informais, chás que são promovidas para falarem mal do dirigente e dos demais trabalhadores devem dar lugar ao trabalho e ao respeito. Podemos criticar, divergir de idéias, mas sem que com isso percamos o sentido de fraternidade. No meio espírita, até o dividir deverá ser multiplicar. Quantos reclamam estar faltando exatamente aquilo que deveriam estarem fazendo.
O espírito de equipe deve estar sempre vivo entre nós. Só assim vamos realizar aquilo que é nossa tarefa, sem precisar de cargos ou posições. O trabalhador espírita deve usar sempre de simplicidade, verdade e respeito. Somente assim vai ser um instrumento disciplinado.
No tocante ao "instruí-vos", a situação parece-nos ainda mais séria. Muitos estão no meio espírita lidando com encarnados e desencarnados; outros, porém, se tornam representantes da Doutrina, dirigentes de casas espíritas, sem conhecerem o Espiritismo. Allan Kardec, para a maioria dos espíritas, é realmente o "Grande Desconhecido".
Ele mesmo, o Mestre Lionês, asseverou que a maior caridade que podemos fazer para o Espiritismo é a sua propagação. Pode-se acrescentar a isso a necessidade do estudo metódico, para bem propagá-lo.
Na Sociedade
A Doutrina Espírita não é uma doutrina de aparência como entendem alguns. Quem vivia de aparências eram os fariseus, não os cristãos. O Espiritismo é, e sempre será, de conseqüências morais. Foi trazido à Terra para contribuir com a transformação moral do homem.
O trabalhador espírita, representante do bem junto à Sociedade, terá o dever de ser uma criatura educada e disciplinada em todos os departamentos da vida. No dia-a-dia deve ser sempre o servidor.
"Eu não vim para ser servido, mas para servir". Assim vivia o Mestre e assim devemos nos portar também.
Na Família
É um dever do espírita, pelo conhecimento recebido, trabalhar na estrutura familiar, fortalecendo a própria sociedade. Não precisamos ter uma sensibilidade aguçada para sentir que a família espírita tem vivido os mesmos problemas das famílias comuns (sem instrução espiritual). Problemas de relacionamento, desequilíbrios emocionais, adultério, filhos rebeldes etc.
Por que isto está acontecendo? Quase sempre é devido a ser apenas uma ou outra pessoa do grupo familiar a buscar o Espiritismo; raramente é a família toda. Com isso, a convicção religiosa fica dividida, dificultando a situação.
Há muito tempo as Federativas vêm se preocupando com essa situação. Tanto que já houve muitas campanhas neste sentido.
A União das Sociedades Espíritas - USE, por exemplo, realizou uma campanha há mais ou menos doze anos. Neste período, como afirmou seu idealizador, muito foi feito na área infantil, na adolescência e na mocidade. Mas, para sua tristeza, viu que houve o esquecimento de se fortalecer o mais importante: o casal. Trabalhou-se com a cobertura, esquecendo-se do alicerce.
Dentro da Lei de Evolução, é sempre tempo de recomeçar, de reconstruir, e neste sentido devemos unir nossos casais espíritas. Como? Procurando formar em cada casa espírita, pessoa ou pessoas capacitadas no assunto. Pessoas equilibradas, com bastante conhecimento doutrinário, com experiência no casamento e se possível com entendimento na área da psicologia.
Só fortalecendo os casais teremos crianças na Evangelização infantil e jovens nas casas espíritas.
Usos e Costumes
A simplicidade sempre foi uma marca nos cristãos dos primeiros tempos. Jesus sempre recomendava que para segui-lo deveriam as pessoas deixar os bens e os prazeres mundanos. O Espiritismo vem reviver aqueles momentos. Devemos refletir sobre isso.
Temos um grande exemplo dado pela Espiritualidade em "O Evangelho Segundo o Espiritismo", cap. XIII, item 4, com o título, "Os Infortúnios Ocultos".
Trata-se de uma senhora de poder aquisitivo alto, que poderia fazer uso do supérfluo , e apesar disso vestia-se com muita simplicidade para que o luxo não viesse insultar a miséria.
Este recado deve encontrar ressonância maior naqueles que expõem o Evangelho e atendem ao público. Se o Evangelho busca levar ao homem a simplicidade e o desprendimento das coisas materiais, este recado não soa bem vindo de uma fonte de ostentação.
É natural que uma pessoa que começa a desvendar as belezas espirituais, passe também a questionar a si mesma ou aos companheiros sobre aquilo que costumeiramente fazia. Vale lembrar que o bom senso deve sempre prevalecer. Nada de radicalismos. A simplicidade não deve chegar ao extremo, passando a ser uma forma disfarçada de se aparecer. O entendimento do desapego aos bens materiais não pode transformar-se em fanatismo.
Vícios e Distúrbios
Estes são pontos polêmicos dentro do movimento espírita. Uma certeza todos nós temos: somos todos portadores de grandes vícios e distúrbios, visíveis e invisíveis, que nos caracterizam como sendo espíritos imperfeitos.
Os visíveis são aqueles que os nossos sentidos já podem perceber, dado sua materialidade. Por exemplo: o adultério, a homossexualidade, o materialismo, a gula, o uso de tóxicos, narcóticos e alcoólicos.
Os invisíveis são aqueles que nos são indiferentes . Exemplo: orgulho, egoísmo, presunção etc. Sem dúvida, os mais difíceis de serem combatidos.
"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral, e pelos esforços que faz para domar suas más inclinações" - Allan Kardec.
Ismael Batista de Souza - Portal do Espírito
Grupo Espírita Bezerra de Menezes