Introdução
O Espiritismo não tem uma visão oficial sobre todos os assuntos porque muitos deles surgiram depois da doutrina, mas isso não nos impede de, na condição de estudantes do Espiritismo, traçar paralelos entre a nossa doutrina e qualquer outro conhecimento. Particularmente, prefiro ser cuidadoso ao traçar certos paralelos, o que pode ser arriscado quando se preza pela cientificidade. O espiritualismo em geral utiliza-se, por exemplo, de conhecimentos da física quântica para construir teorias mais ou menos consistentes. Considero o que disse o físico teórico e crítico da ciência Jean-Marc Lévy-Leblond:
“Por que não aplicar a teoria da relatividade às relações amorosas? E a teoria dos quanta à inflação monetária? Por que não realmente? Mas cabe aos que tentam operações desse gênero fazer a demonstração de que elas são pertinentes! Em ciência, não se pode assinar cheque em branco”.
[...] “Poderíamos evocar numerosas teorias físicas para tirar analogias mais ou menos esclarecedoras em relação a fenômenos biológicos ou sociais – isto é velho como a ciência” [...] “Não me oponho a semelhantes utilizações, ou desvios, com a condição de que não haja confusão” [...] (in: PESSIS-PASTERNAK, 1993).
É claro que a formação de hipóteses é uma etapa do método científico, porém as hipóteses sozinhas, não se podem dizer científicas. Apesar de tratar de um tema científico, defendo que, o paralelo que agora faço entre Doutrina Espírita e Teoria do Caos, não é científico. Trata-se apenas da construção de hipóteses e de observações, ainda superficiais, feitas entre estes dois campos do conhecimento, entretanto, acredito que este seja um campo aberto à pesquisa da ciência Espírita, por isso resolvi expor minhas observações pessoais no intuito de contribuir com o avanço de pesquisas que possam comprovar ou desmentir minhas hipóteses.
O Espiritismo não tem uma visão oficial sobre todos os assuntos porque muitos deles surgiram depois da doutrina, mas isso não nos impede de, na condição de estudantes do Espiritismo, traçar paralelos entre a nossa doutrina e qualquer outro conhecimento. Particularmente, prefiro ser cuidadoso ao traçar certos paralelos, o que pode ser arriscado quando se preza pela cientificidade. O espiritualismo em geral utiliza-se, por exemplo, de conhecimentos da física quântica para construir teorias mais ou menos consistentes. Considero o que disse o físico teórico e crítico da ciência Jean-Marc Lévy-Leblond:
“Por que não aplicar a teoria da relatividade às relações amorosas? E a teoria dos quanta à inflação monetária? Por que não realmente? Mas cabe aos que tentam operações desse gênero fazer a demonstração de que elas são pertinentes! Em ciência, não se pode assinar cheque em branco”.
[...] “Poderíamos evocar numerosas teorias físicas para tirar analogias mais ou menos esclarecedoras em relação a fenômenos biológicos ou sociais – isto é velho como a ciência” [...] “Não me oponho a semelhantes utilizações, ou desvios, com a condição de que não haja confusão” [...] (in: PESSIS-PASTERNAK, 1993).
É claro que a formação de hipóteses é uma etapa do método científico, porém as hipóteses sozinhas, não se podem dizer científicas. Apesar de tratar de um tema científico, defendo que, o paralelo que agora faço entre Doutrina Espírita e Teoria do Caos, não é científico. Trata-se apenas da construção de hipóteses e de observações, ainda superficiais, feitas entre estes dois campos do conhecimento, entretanto, acredito que este seja um campo aberto à pesquisa da ciência Espírita, por isso resolvi expor minhas observações pessoais no intuito de contribuir com o avanço de pesquisas que possam comprovar ou desmentir minhas hipóteses.
O que é a teoria do Caos?
Para traçar um paralelo é necessário ter alguma noção do que se trata esta teoria. As observações feitas aqui a esse respeito foram baseadas, sobretudo na obra de Gleik (1989). A Teoria do Caos observa a ordem oculta que existe na natureza por detrás de fenômenos aparentemente caóticos, esta ordem pode ser observada tanto em estruturas humanas como na natureza.
A nível microscópico pode-se dar o exemplo dos fractais que são estruturas observadas na natureza com regularidade geométrica e beleza incríveis, estas estruturas regulares e com padrões definidos, surgem em diferentes objetos ou seres, demonstrando um padrão de organização na natureza.
Edward Lonrenz foi um dos precursores desta ciência quando descobriu o que chamou de efeito borboleta, ou seja, a dependência sensível que um fenômeno tem das condições iniciais. O primeiro passo para a descoberta desta nova abordagem científica aconteceu quando ele pesquisava a previsão do clima através de um programa de 12 equações no seu Royal Mcbee que fazia apenas 60 multiplicações por segundo, enquanto os institutos modernos já utilizavam um Control Data Cyber 205, capaz de fazer milhões de operações por segundo com um programa de 500.000 equações.
A diferença foi que Lorenz usou equações não lineares para realizar suas simulações de como se comportava o clima. Ele alimentava as equações com dados iniciais das condições climáticas e em seguida o programa começava a produzir gráficos de previsão climática.
O tempo era visto como algo que não podia se expressar na forma de medias, a idéia era de que influências muito pequenas podem ser postas de lado (o mesmo para as previsões de rotas astronômicas, as previsões econômicas etc), porém qual não foi a surpresa de Lorenz quando no seu computador teve que reiniciar uma seqüência de simulação climática e ao alimentar os dados do seu computador, em vez de seis casas decimais usou apenas três casas por achar que os milésimos decimais não afetariam significativamente o resultado; percebeu ele que o gráfico começava sem nenhuma diferença do anterior, mas em determinado ponto ele se diferenciava drasticamente revelando que as condições iniciais determinam sensivelmente os resultados, ou seja, as três casas decimais que ele achou que não seriam importantes, foram responsáveis por uma mudança completa na simulação.
Em 1972 Lorenz lançou um artigo de grande repercussão intitulado “Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?”, o artigo foi apresentado em 1972 em um encontro em Washington. Ele não responde à pergunta, mas argumenta que:
a) se um simples bater de asas de uma borboleta pode ocasionar um tornado, então todos os bateres anteriores e posteriores de suas asas, e ainda mais, as atividades de outras inúmeras criaturas também o poderão;
b) se um simples bater de asas de uma borboleta pode ocasionar um tornado que, de outra forma, não teria acontecido, igualmente pode evitar um tornado que poderia ser formado sem sua influência.
O que Lorenz queria dizer é que insignificantes fatores podem amplificar-se temporalmente de forma a mudar radicalmente um estado. Assim, a previsão do tempo em longo prazo continua a ser algo inalcançável, pelo fato de que nossas observações são deficientes e os arredondamentos que utilizamos, inevitáveis.
O efeito borboleta recebeu o nome técnico de dependência sensível das condições iniciais. A partir daí deixava-se de lado o preceito de que as influências muito pequenas não são determinantes ou que pouco afetam os resultados.
O fato é que a Teoria do Caos destrói a possibilidade de previsibilidade absoluta dos fenômenos (o sonho laplaciano) uma vez que é impossível não trabalhar com arredondamentos quando se estudam sistemas caóticos como o clima, destrói também a mecanicidade do universo (a visão cartesiana) fazendo com que o cosmo não seja mais visto como um relógio e sim comparado a um organismo vivo que mais parece ter livre arbítrio. No estudo se sistemas caóticos como o clima, as estatísticas econômicas e sociais, a dinâmica de fluidos, podia-se observar que fenômenos aleatórios apresentavam globalmente padrões de comportamento ou uma “ordem” que surge no meio do caos. Um sistema caótico podia ser estável se sua irregularidade específica perdurasse diante de pequenas perturbações.
O sistema de Lorenz era um exemplo disso, o caos descoberto por ele, com toda a sua imprevisibilidade, era tão estável quanto uma bola de gude numa tigela. Poderíamos acrescentar ruído ao sistema, sacudi-lo, agitá-lo, interferir no seu movimento, mas quando tudo se acalmava, quando as interferências passageiras desapareciam como ecos num precipício, o sistema voltava ao mesmo padrão singular de irregularidades de antes. Era, portanto localmente imprevisível e globalmente estável. Os padrões de regularidade encontrados no clima ou nas variações da bolsa de valores, quando expressados graficamente, são similares às estruturas fractais encontradas na natureza, é como se todas as coisas estivessem sob uma ordem oculta que as dirige e organiza, mesmo quando parece haver apenas o Caos.
Um outro exemplo disso foi quando astrônomos da Nasa puderam observar uma enorme mancha vermelha no planeta Júpiter, uma espécie de furacão estável que se movimenta no sentido anticiclópico. Depois de muitos anos descobriram do que se tratava, e indagavam como podia em meio a um sistema caótico e imprevisível como o clima, surgir um sistema estável? A mancha vermelha é um sistema auto-organizador criado e regulado pelas mesmas mudanças não lineares que criam a agitação imprevisível à sua volta. É o caos estável!
Mesmo que as coisas sejam imprevisíveis pontualmente ou em um lugar específico, elas apresentam uma tendência global que emerge em todos os lugares, na natureza, na economia ou no comportamento social. Ou seja, as grandes nações estão sempre em alternância de ascensão e queda, as estações do ano sempre se repetem, as alterações da bolsa de valores seguem tendências matemáticas que podem ser previstas ao nível de macroeconomia por equações alineares inspiradas no modelo de Lorenz.
Equações alineares são mais adequadas para o estudo de sistemas caóticos do que as lineares, a geometria euclidiana também se torna limitada para o estudo dos fractais. O estudo dos fractais já é usado na agronomia para determinar a estrutura do solo de forma muito mais eficiente, e na biologia para o estudo de dinâmica populacional de espécies. O Caos também influi em todos os campos da ciência que trabalham com modelos de previsões, até para jogar na loteria se usa o Caos, depois da relatividade e da mecânica quântica é o campo mais revolucionário da ciência moderna e pasmem, influi também na educação e na filosofia.
Edgar Morin é um dos que se inspira no Caos para nos falar de complexidade. A complexidade surge porque o Caos revela um universo muito mais rico e imprevisível do que as teorias de Newton, Descartes e Laplace. O mundo é complexo e imprevisível, e mesmo que as coisas sigam uma ordem e uma tendência, e no todo todas as coisas obedeçam a esta ordem, nos níveis inferiores não existe determinismo.
Podemos então observar que os sistemas caóticos surgem com determinadas características: a auto-organização; espontaneidade e antideterminismo; são localmente imprevisíveis e globalmente estáveis; são alineares; sofrem dependência sensível das condições iniciais; são interdisciplinares (o Caos rompe com as fronteiras que separavam as disciplinas científicas) e são complexos.
Para traçar um paralelo é necessário ter alguma noção do que se trata esta teoria. As observações feitas aqui a esse respeito foram baseadas, sobretudo na obra de Gleik (1989). A Teoria do Caos observa a ordem oculta que existe na natureza por detrás de fenômenos aparentemente caóticos, esta ordem pode ser observada tanto em estruturas humanas como na natureza.
A nível microscópico pode-se dar o exemplo dos fractais que são estruturas observadas na natureza com regularidade geométrica e beleza incríveis, estas estruturas regulares e com padrões definidos, surgem em diferentes objetos ou seres, demonstrando um padrão de organização na natureza.
Edward Lonrenz foi um dos precursores desta ciência quando descobriu o que chamou de efeito borboleta, ou seja, a dependência sensível que um fenômeno tem das condições iniciais. O primeiro passo para a descoberta desta nova abordagem científica aconteceu quando ele pesquisava a previsão do clima através de um programa de 12 equações no seu Royal Mcbee que fazia apenas 60 multiplicações por segundo, enquanto os institutos modernos já utilizavam um Control Data Cyber 205, capaz de fazer milhões de operações por segundo com um programa de 500.000 equações.
A diferença foi que Lorenz usou equações não lineares para realizar suas simulações de como se comportava o clima. Ele alimentava as equações com dados iniciais das condições climáticas e em seguida o programa começava a produzir gráficos de previsão climática.
O tempo era visto como algo que não podia se expressar na forma de medias, a idéia era de que influências muito pequenas podem ser postas de lado (o mesmo para as previsões de rotas astronômicas, as previsões econômicas etc), porém qual não foi a surpresa de Lorenz quando no seu computador teve que reiniciar uma seqüência de simulação climática e ao alimentar os dados do seu computador, em vez de seis casas decimais usou apenas três casas por achar que os milésimos decimais não afetariam significativamente o resultado; percebeu ele que o gráfico começava sem nenhuma diferença do anterior, mas em determinado ponto ele se diferenciava drasticamente revelando que as condições iniciais determinam sensivelmente os resultados, ou seja, as três casas decimais que ele achou que não seriam importantes, foram responsáveis por uma mudança completa na simulação.
Em 1972 Lorenz lançou um artigo de grande repercussão intitulado “Previsibilidade: o bater de asas de uma borboleta no Brasil desencadeia um tornado no Texas?”, o artigo foi apresentado em 1972 em um encontro em Washington. Ele não responde à pergunta, mas argumenta que:
a) se um simples bater de asas de uma borboleta pode ocasionar um tornado, então todos os bateres anteriores e posteriores de suas asas, e ainda mais, as atividades de outras inúmeras criaturas também o poderão;
b) se um simples bater de asas de uma borboleta pode ocasionar um tornado que, de outra forma, não teria acontecido, igualmente pode evitar um tornado que poderia ser formado sem sua influência.
O que Lorenz queria dizer é que insignificantes fatores podem amplificar-se temporalmente de forma a mudar radicalmente um estado. Assim, a previsão do tempo em longo prazo continua a ser algo inalcançável, pelo fato de que nossas observações são deficientes e os arredondamentos que utilizamos, inevitáveis.
O efeito borboleta recebeu o nome técnico de dependência sensível das condições iniciais. A partir daí deixava-se de lado o preceito de que as influências muito pequenas não são determinantes ou que pouco afetam os resultados.
O fato é que a Teoria do Caos destrói a possibilidade de previsibilidade absoluta dos fenômenos (o sonho laplaciano) uma vez que é impossível não trabalhar com arredondamentos quando se estudam sistemas caóticos como o clima, destrói também a mecanicidade do universo (a visão cartesiana) fazendo com que o cosmo não seja mais visto como um relógio e sim comparado a um organismo vivo que mais parece ter livre arbítrio. No estudo se sistemas caóticos como o clima, as estatísticas econômicas e sociais, a dinâmica de fluidos, podia-se observar que fenômenos aleatórios apresentavam globalmente padrões de comportamento ou uma “ordem” que surge no meio do caos. Um sistema caótico podia ser estável se sua irregularidade específica perdurasse diante de pequenas perturbações.
O sistema de Lorenz era um exemplo disso, o caos descoberto por ele, com toda a sua imprevisibilidade, era tão estável quanto uma bola de gude numa tigela. Poderíamos acrescentar ruído ao sistema, sacudi-lo, agitá-lo, interferir no seu movimento, mas quando tudo se acalmava, quando as interferências passageiras desapareciam como ecos num precipício, o sistema voltava ao mesmo padrão singular de irregularidades de antes. Era, portanto localmente imprevisível e globalmente estável. Os padrões de regularidade encontrados no clima ou nas variações da bolsa de valores, quando expressados graficamente, são similares às estruturas fractais encontradas na natureza, é como se todas as coisas estivessem sob uma ordem oculta que as dirige e organiza, mesmo quando parece haver apenas o Caos.
Um outro exemplo disso foi quando astrônomos da Nasa puderam observar uma enorme mancha vermelha no planeta Júpiter, uma espécie de furacão estável que se movimenta no sentido anticiclópico. Depois de muitos anos descobriram do que se tratava, e indagavam como podia em meio a um sistema caótico e imprevisível como o clima, surgir um sistema estável? A mancha vermelha é um sistema auto-organizador criado e regulado pelas mesmas mudanças não lineares que criam a agitação imprevisível à sua volta. É o caos estável!
Mesmo que as coisas sejam imprevisíveis pontualmente ou em um lugar específico, elas apresentam uma tendência global que emerge em todos os lugares, na natureza, na economia ou no comportamento social. Ou seja, as grandes nações estão sempre em alternância de ascensão e queda, as estações do ano sempre se repetem, as alterações da bolsa de valores seguem tendências matemáticas que podem ser previstas ao nível de macroeconomia por equações alineares inspiradas no modelo de Lorenz.
Equações alineares são mais adequadas para o estudo de sistemas caóticos do que as lineares, a geometria euclidiana também se torna limitada para o estudo dos fractais. O estudo dos fractais já é usado na agronomia para determinar a estrutura do solo de forma muito mais eficiente, e na biologia para o estudo de dinâmica populacional de espécies. O Caos também influi em todos os campos da ciência que trabalham com modelos de previsões, até para jogar na loteria se usa o Caos, depois da relatividade e da mecânica quântica é o campo mais revolucionário da ciência moderna e pasmem, influi também na educação e na filosofia.
Edgar Morin é um dos que se inspira no Caos para nos falar de complexidade. A complexidade surge porque o Caos revela um universo muito mais rico e imprevisível do que as teorias de Newton, Descartes e Laplace. O mundo é complexo e imprevisível, e mesmo que as coisas sigam uma ordem e uma tendência, e no todo todas as coisas obedeçam a esta ordem, nos níveis inferiores não existe determinismo.
Podemos então observar que os sistemas caóticos surgem com determinadas características: a auto-organização; espontaneidade e antideterminismo; são localmente imprevisíveis e globalmente estáveis; são alineares; sofrem dependência sensível das condições iniciais; são interdisciplinares (o Caos rompe com as fronteiras que separavam as disciplinas científicas) e são complexos.
Caos e suas possíveis relações com o Espiritismo
Para o Espiritismo Deus é a causa da ordem que emerge do caos, suas leis são as mesmas que fazem com que todos os fenômenos tenham uma tendência auto-organizadora. Conforme nos diz Kardec:
“A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso”. (L..E.1 q.8).
A ciência do Caos revela que na verdade não há caos na natureza, sistemas aparentemente caóticos são imprevisíveis e instáveis apenas a nível local e pontual, se vistos de maneira global, logo surge a ordem que é inerente à natureza das coisas, assim como no Espiritismo, sabe-se que as leis de Deus existem em todo o universo e que todas as coisas, mesmo as que parecem caóticas, seguem uma ordem oculta, esta ordem é inerente à própria natureza das coisas e não imposta externamente, esta ordem surge ou emerge e como o próprio nome diz, são "propriedades emergentes", tão estudadas na ecologia profunda. De outro modo, podemos comparar esta ordem a Lei Divina ou Natural onde “a harmonia que reina no universo material, como no universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade” (L.E. q.615).
Mas o que faz todos os fenômenos naturais estarem sujeitos à mesma ordem e tendência organizadora? Talvez a natureza da própria matéria seja a resposta para essa questão. Antigamente concebia-se que a matéria podia ser composta de diferentes elementos primordiais que lhe daria as diferentes qualidades que possui, porém desde de 1857 os Espíritos nos dizem que a matéria é formada de um só elemento primitivo e que suas diferentes propriedades são resultado da modificação que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias (L.E. q.30, 31). Os avanços da física de partículas e da mecânica quântica demonstram uma realidade muito próxima, na verdade hoje é pouco preciso usar a expressão “moléculas elementares” porque na verdade não existem moléculas elementares, a matéria é energia, o que chamamos de partículas podem ser ao mesmo tempo uma onda de probabilidade ou partículas, possuem qualidades paradoxais e em determinados momentos assemelham-se mais a “bolsões” de energia do que propriamente a uma partícula e suas propriedades a nível subatômico são inconcebíveis para o nosso estado de percepção tridimensional.
Os espíritos utilizaram o vocabulário disponível, vocabulário que eles constantemente se queixavam da sua limitação e pobreza para definir coisas desconhecidas para nós. Os espíritos anunciaram inclusive a impossibilidade de apreciarmos essas “moléculas” (L.E. q.34). Assim, tendo a matéria a mesma natureza comum e a mesma origem, é natural que toda a matéria esteja sujeita as mesmas leis.
Para o Espiritismo toda a matéria possui o mesmo princípio comum e é regida pelas mesmas leis naturais:
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluído é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhes inerentes as forças que presidem às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo”. (Ge.2 Cap. VI, 10).
Deus não é um legislador que vive impondo regras de fora para dentro na natureza. Não! Suas regras já fazem parte da natureza e todas elas tendem à ordem, porque a ordem está implícita na natureza. Por outro lado, mesmo que a ordem seja implícita, isto não impede o livre arbítrio relativo à nossa condição inferior.
Se, por exemplo, o clima é caótico a nível pontual, não se pode prever o clima com precisão absoluta, porém ele segue padrões a nível global como nas estações do ano, assim, o Caos também observa que se o homem interfere em um sistema caótico, ele pode até conseguir desestabilizar momentaneamente a ordem que surge do caos, como quando causa alterações climáticas pela poluição, mas, em seguida, cessada a interferência humana, a natureza se restabelece porque a ordem faz parte da natureza das coisas. Não podemos aí fazer uma comparação com a visão do livre arbítrio no Espiritismo? Sim! O Homem tem livre arbítrio e por isso ele pode momentaneamente alterar a ordem da natureza, mas esta ordem se restabelecerá porque ela é inerente à própria natureza. Temos liberdade de ação, mas nossa ação, apesar de ser desorganizadora, não altera os princípios que regem o universo e estes princípios acabam restabelecendo um dia.
Esta abordagem resolve a aparente contradição de como podem existir leis divinas e livre arbítrio ao mesmo tempo. Nosso livre arbítrio é relativo à flexibilidade das leis naturais que nos permitem intervir na ordem dos fatos sem com isso alterar a natureza das próprias leis existentes em todas as coisas. Liberdade absoluta é um contra-senso quando se concebe a existência de leis universais ou quando se fala de vida em sociedade. Todos precisamos um dos outros e por isso não há liberdade absoluta (L.E. q.825), mas, sem o livre-arbítrio o homem seria apenas uma máquina (L.E.q.843).
O Caos também torna mais aceitável a idéia de que os Espíritos interferem nos fenômenos da natureza, se, como Lorenz disse, o bater de asas de uma borboleta é capaz de causar um furacão, ou seja, que pequenas interferências, quase imperceptíveis, são capazes de provocar profundas modificações em um fenômeno em uma escala de tempo adequada; então para alterar fenômenos naturais de grande escala, não é necessário uma interferência monumental, com grande desperdício de energia ou de força. Existem chaves na natureza, pontos onde uma pequena interferência pode provocar uma espetacular mudança, os espíritos detentores destes conhecimentos, podem facilmente manipular estas “chaves” tendo controle sobre os fenômenos naturais.
O Espiritismo se adiantou no tempo e negou a possibilidade do caos e do acaso até mesmo nos fenômenos naturais:
“São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos?
– Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus” (L.E. q.536).
A fatalidade é algo que não existe de forma absoluta, só há fatalidade nas provas que escolhemos para esta vida ou na hora do nascer e desencarnar (L.E. q. 851, 853), as leis naturais conjugadas com os nossos compromissos cármicos dirigem o gênero de vida que temos, mas não há um controle específico para cada passo que damos.
Aqui na terra estamos sujeitos a pequenos incidentes que são próprios do estado material em que vivemos, sem que cada pequeno acontecimento tenha um significado cármico. Como nos mostra a Teoria do Caos, a vida é localmente caótica e globalmente estável. Os fatos corriqueiros da vida, como um tropeção ou uma enfermidade simples, acontecem de maneira casual ou caótica (no sentido de que não há um controle específico para estes fatos), porém trata-se de uma desordem submissa a uma ordem maior que dá a estes fatos o limite da trivialidade. Não há um controle para cada passo da vida, assim como não há um controle específico para cada alteração do clima ou da bolsa de valores, porém há uma ordem geral que limita o aparente caos existente nas coisas, esta ordem pode ser percebida quando observamos os fatos com uma visão além da ótica pontual e individual e transcendemos para uma percepção global e holística. (L.E.q.859).
Quando o Caos afirma que não há determinismo localmente, mas há leis globais, isso está consoante com a teoria das predições proposta pelo Espiritismo. Não se podem prever acontecimentos com detalhes específicos como data e hora. Determinados fatos estão propensos a acontecer, porém a forma particular e o momento em que se realizam estão sujeitos ao livre arbítrio do homem:
“Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver em mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever uma guerra que se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens”. (Ge. Cap. XVI, 13).
Os Espíritos, na condição de erraticidade, podem mais facilmente prever os acontecimentos, interferir em nossas vidas, porém deve-se desconfiar daqueles que dão informações muito precisas:
Os Espíritos, que formam a população individual do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade. Poderão, por conseguinte, com maior facilidade, determinar datas aos acontecimentos futuros, desde que os conheçam; mas, além de que isso nem sempre lhes é permitido, eles se vêem impedidos pela razão de que, sempre que as circunstâncias de minúcias estão subordinadas ao livre arbítrio e à decisão eventual do homem, nenhuma data precisa existe realmente, senão depois que o acontecimento se tenha dado. (Ge. Cap. XVI, 16).
Uma outra contribuição do Caos é diluir a visão linear e simplista que temos das relações de causa e efeito. Ao lerem-se filósofos empiristas como Hume e Berkley e Locke observa-se que as relações de causa e efeito não são tão simples e lineares, elas podem ser influenciadas inclusive por nossas expectativas. David Hume (1711-1776), não acreditava na imortalidade da alma ou em Deus, se dizia agnóstico, porém ele acreditava que existiam leis imutáveis, mas por causa de nossas experiências vividas criamos expectativas assim, podemos facilmente nos enganar na relação de causa e efeito, por exemplo; uma galinha pode criar uma relação de causa e efeito baseada na seguinte observação: todas as vezes que ela escuta os passos do granjeiro, em seguida vem a ração, estabelece a relação de que a conseqüência dos passos do granjeiro será sempre mais comida, mas, um dia, depois de ouvir os passos do granjeiro, ele quebra o pescoço da galinha. Na verdade nós podemos agir como a galinha e enxergar uma relação de causa e efeito onde ela não existe.
A complexidade é uma característica que demonstra que as coisas não funcionam mecanicamente e são tantos os fatores que agem em um fenômeno, que é impossível fazer diagnósticos e previsões quanto ao carma e destino de cada um. Entender a complexidade é uma prevenção contra explicações simplistas, como o justificar que alguém nasceu aleijado porque usou mal as pernas em outra vida, ou que nasceu sem um braço porque usou este membro para chicotear escravos na encarnação passada. Apesar observarem-se casos de uma relação direta de causa e efeito, isto não se aplica a todas as circunstâncias. A lei de causa e efeito sempre se aplica, mas não necessariamente de forma linear o que tornaria intragável esta lei e a própria reencarnação.
Muito se poderia dizer a respeito deste vasto campo científico que veio acrescentar à Doutrina Espírita ao mesmo tempo comprovando o pioneirismo e atualidade do Espiritismo perante a ciência e contribuindo para uma visão mais profunda, seja no campo da compreensão da matéria e dos fenômenos da natureza ou da sua filosofia e teoria social. Este ensaio abre apenas uma discussão e como todas as coisas que se iniciam, é como uma pedra bruta que precisa ser lapidada pelas réplicas e reflexões de todos os leitores. A ânsia de contribuir no desenvolvimento do pensamento doutrinário nos fez ousar escrever este texto na expectativa de que seus frutos sejam positivos.
Muita paz!
- Breno Henrique de Sousa*
*Membro da Federação Espírita Paraibana e do Núcleo Espírita Eurípedes Barsanulfo.
Para o Espiritismo Deus é a causa da ordem que emerge do caos, suas leis são as mesmas que fazem com que todos os fenômenos tenham uma tendência auto-organizadora. Conforme nos diz Kardec:
“A harmonia existente no mecanismo do Universo patenteia combinações e desígnios determinados e, por isso mesmo, revela um poder inteligente. Atribuir a formação primária ao acaso é insensatez, pois que o acaso é cego e não pode produzir os efeitos que a inteligência produz. Um acaso inteligente já não seria acaso”. (L..E.1 q.8).
A ciência do Caos revela que na verdade não há caos na natureza, sistemas aparentemente caóticos são imprevisíveis e instáveis apenas a nível local e pontual, se vistos de maneira global, logo surge a ordem que é inerente à natureza das coisas, assim como no Espiritismo, sabe-se que as leis de Deus existem em todo o universo e que todas as coisas, mesmo as que parecem caóticas, seguem uma ordem oculta, esta ordem é inerente à própria natureza das coisas e não imposta externamente, esta ordem surge ou emerge e como o próprio nome diz, são "propriedades emergentes", tão estudadas na ecologia profunda. De outro modo, podemos comparar esta ordem a Lei Divina ou Natural onde “a harmonia que reina no universo material, como no universo moral, se funda em leis estabelecidas por Deus desde toda a eternidade” (L.E. q.615).
Mas o que faz todos os fenômenos naturais estarem sujeitos à mesma ordem e tendência organizadora? Talvez a natureza da própria matéria seja a resposta para essa questão. Antigamente concebia-se que a matéria podia ser composta de diferentes elementos primordiais que lhe daria as diferentes qualidades que possui, porém desde de 1857 os Espíritos nos dizem que a matéria é formada de um só elemento primitivo e que suas diferentes propriedades são resultado da modificação que as moléculas elementares sofrem, por efeito da sua união, em certas circunstâncias (L.E. q.30, 31). Os avanços da física de partículas e da mecânica quântica demonstram uma realidade muito próxima, na verdade hoje é pouco preciso usar a expressão “moléculas elementares” porque na verdade não existem moléculas elementares, a matéria é energia, o que chamamos de partículas podem ser ao mesmo tempo uma onda de probabilidade ou partículas, possuem qualidades paradoxais e em determinados momentos assemelham-se mais a “bolsões” de energia do que propriamente a uma partícula e suas propriedades a nível subatômico são inconcebíveis para o nosso estado de percepção tridimensional.
Os espíritos utilizaram o vocabulário disponível, vocabulário que eles constantemente se queixavam da sua limitação e pobreza para definir coisas desconhecidas para nós. Os espíritos anunciaram inclusive a impossibilidade de apreciarmos essas “moléculas” (L.E. q.34). Assim, tendo a matéria a mesma natureza comum e a mesma origem, é natural que toda a matéria esteja sujeita as mesmas leis.
Para o Espiritismo toda a matéria possui o mesmo princípio comum e é regida pelas mesmas leis naturais:
“Há um fluido etéreo que enche o espaço e penetra os corpos. Esse fluído é o éter ou matéria cósmica primitiva, geradora do mundo e dos seres. São-lhes inerentes as forças que presidem às metamorfoses da matéria, as leis imutáveis e necessárias que regem o mundo”. (Ge.2 Cap. VI, 10).
Deus não é um legislador que vive impondo regras de fora para dentro na natureza. Não! Suas regras já fazem parte da natureza e todas elas tendem à ordem, porque a ordem está implícita na natureza. Por outro lado, mesmo que a ordem seja implícita, isto não impede o livre arbítrio relativo à nossa condição inferior.
Se, por exemplo, o clima é caótico a nível pontual, não se pode prever o clima com precisão absoluta, porém ele segue padrões a nível global como nas estações do ano, assim, o Caos também observa que se o homem interfere em um sistema caótico, ele pode até conseguir desestabilizar momentaneamente a ordem que surge do caos, como quando causa alterações climáticas pela poluição, mas, em seguida, cessada a interferência humana, a natureza se restabelece porque a ordem faz parte da natureza das coisas. Não podemos aí fazer uma comparação com a visão do livre arbítrio no Espiritismo? Sim! O Homem tem livre arbítrio e por isso ele pode momentaneamente alterar a ordem da natureza, mas esta ordem se restabelecerá porque ela é inerente à própria natureza. Temos liberdade de ação, mas nossa ação, apesar de ser desorganizadora, não altera os princípios que regem o universo e estes princípios acabam restabelecendo um dia.
Esta abordagem resolve a aparente contradição de como podem existir leis divinas e livre arbítrio ao mesmo tempo. Nosso livre arbítrio é relativo à flexibilidade das leis naturais que nos permitem intervir na ordem dos fatos sem com isso alterar a natureza das próprias leis existentes em todas as coisas. Liberdade absoluta é um contra-senso quando se concebe a existência de leis universais ou quando se fala de vida em sociedade. Todos precisamos um dos outros e por isso não há liberdade absoluta (L.E. q.825), mas, sem o livre-arbítrio o homem seria apenas uma máquina (L.E.q.843).
O Caos também torna mais aceitável a idéia de que os Espíritos interferem nos fenômenos da natureza, se, como Lorenz disse, o bater de asas de uma borboleta é capaz de causar um furacão, ou seja, que pequenas interferências, quase imperceptíveis, são capazes de provocar profundas modificações em um fenômeno em uma escala de tempo adequada; então para alterar fenômenos naturais de grande escala, não é necessário uma interferência monumental, com grande desperdício de energia ou de força. Existem chaves na natureza, pontos onde uma pequena interferência pode provocar uma espetacular mudança, os espíritos detentores destes conhecimentos, podem facilmente manipular estas “chaves” tendo controle sobre os fenômenos naturais.
O Espiritismo se adiantou no tempo e negou a possibilidade do caos e do acaso até mesmo nos fenômenos naturais:
“São devidos a causas fortuitas, ou, ao contrário, têm todos um fim providencial, os grandes fenômenos da Natureza, os que se consideram como perturbação dos elementos?
– Tudo tem uma razão de ser e nada acontece sem a permissão de Deus” (L.E. q.536).
A fatalidade é algo que não existe de forma absoluta, só há fatalidade nas provas que escolhemos para esta vida ou na hora do nascer e desencarnar (L.E. q. 851, 853), as leis naturais conjugadas com os nossos compromissos cármicos dirigem o gênero de vida que temos, mas não há um controle específico para cada passo que damos.
Aqui na terra estamos sujeitos a pequenos incidentes que são próprios do estado material em que vivemos, sem que cada pequeno acontecimento tenha um significado cármico. Como nos mostra a Teoria do Caos, a vida é localmente caótica e globalmente estável. Os fatos corriqueiros da vida, como um tropeção ou uma enfermidade simples, acontecem de maneira casual ou caótica (no sentido de que não há um controle específico para estes fatos), porém trata-se de uma desordem submissa a uma ordem maior que dá a estes fatos o limite da trivialidade. Não há um controle para cada passo da vida, assim como não há um controle específico para cada alteração do clima ou da bolsa de valores, porém há uma ordem geral que limita o aparente caos existente nas coisas, esta ordem pode ser percebida quando observamos os fatos com uma visão além da ótica pontual e individual e transcendemos para uma percepção global e holística. (L.E.q.859).
Quando o Caos afirma que não há determinismo localmente, mas há leis globais, isso está consoante com a teoria das predições proposta pelo Espiritismo. Não se podem prever acontecimentos com detalhes específicos como data e hora. Determinados fatos estão propensos a acontecer, porém a forma particular e o momento em que se realizam estão sujeitos ao livre arbítrio do homem:
“Pode, portanto, ser certo o resultado final de um acontecimento, por se achar este nos desígnios de Deus; como, porém, quase sempre, os pormenores e o modo de execução se encontram subordinados às circunstâncias e ao livre arbítrio dos homens, podem ser eventuais as sendas e os meios. Está nas possibilidades dos Espíritos prevenir-nos do conjunto, se convier que sejamos avisados; mas, para determinarem lugar e data, fora mister conhecessem previamente a decisão que tomará este ou aquele indivíduo. Ora, se essa decisão ainda não lhe estiver em mente, poderá, tal venha ela a ser, apressar ou demorar a realização do fato, modificar os meios secundários de ação, embora o mesmo resultado chegue sempre a produzir-se. É assim, por exemplo, que pelo conjunto das circunstâncias, podem os Espíritos prever uma guerra que se acha mais ou menos próxima, que é inevitável, sem, contudo, poderem predizer o dia em que começará, nem os incidentes pormenorizados que possam ser modificados pela vontade dos homens”. (Ge. Cap. XVI, 13).
Os Espíritos, na condição de erraticidade, podem mais facilmente prever os acontecimentos, interferir em nossas vidas, porém deve-se desconfiar daqueles que dão informações muito precisas:
Os Espíritos, que formam a população individual do nosso globo, onde eles já viveram e onde continuam a imiscuir-se na nossa vida, estão naturalmente identificados com os nossos hábitos, cuja lembrança conservam na erraticidade. Poderão, por conseguinte, com maior facilidade, determinar datas aos acontecimentos futuros, desde que os conheçam; mas, além de que isso nem sempre lhes é permitido, eles se vêem impedidos pela razão de que, sempre que as circunstâncias de minúcias estão subordinadas ao livre arbítrio e à decisão eventual do homem, nenhuma data precisa existe realmente, senão depois que o acontecimento se tenha dado. (Ge. Cap. XVI, 16).
Uma outra contribuição do Caos é diluir a visão linear e simplista que temos das relações de causa e efeito. Ao lerem-se filósofos empiristas como Hume e Berkley e Locke observa-se que as relações de causa e efeito não são tão simples e lineares, elas podem ser influenciadas inclusive por nossas expectativas. David Hume (1711-1776), não acreditava na imortalidade da alma ou em Deus, se dizia agnóstico, porém ele acreditava que existiam leis imutáveis, mas por causa de nossas experiências vividas criamos expectativas assim, podemos facilmente nos enganar na relação de causa e efeito, por exemplo; uma galinha pode criar uma relação de causa e efeito baseada na seguinte observação: todas as vezes que ela escuta os passos do granjeiro, em seguida vem a ração, estabelece a relação de que a conseqüência dos passos do granjeiro será sempre mais comida, mas, um dia, depois de ouvir os passos do granjeiro, ele quebra o pescoço da galinha. Na verdade nós podemos agir como a galinha e enxergar uma relação de causa e efeito onde ela não existe.
A complexidade é uma característica que demonstra que as coisas não funcionam mecanicamente e são tantos os fatores que agem em um fenômeno, que é impossível fazer diagnósticos e previsões quanto ao carma e destino de cada um. Entender a complexidade é uma prevenção contra explicações simplistas, como o justificar que alguém nasceu aleijado porque usou mal as pernas em outra vida, ou que nasceu sem um braço porque usou este membro para chicotear escravos na encarnação passada. Apesar observarem-se casos de uma relação direta de causa e efeito, isto não se aplica a todas as circunstâncias. A lei de causa e efeito sempre se aplica, mas não necessariamente de forma linear o que tornaria intragável esta lei e a própria reencarnação.
Muito se poderia dizer a respeito deste vasto campo científico que veio acrescentar à Doutrina Espírita ao mesmo tempo comprovando o pioneirismo e atualidade do Espiritismo perante a ciência e contribuindo para uma visão mais profunda, seja no campo da compreensão da matéria e dos fenômenos da natureza ou da sua filosofia e teoria social. Este ensaio abre apenas uma discussão e como todas as coisas que se iniciam, é como uma pedra bruta que precisa ser lapidada pelas réplicas e reflexões de todos os leitores. A ânsia de contribuir no desenvolvimento do pensamento doutrinário nos fez ousar escrever este texto na expectativa de que seus frutos sejam positivos.
Muita paz!
- Breno Henrique de Sousa*
*Membro da Federação Espírita Paraibana e do Núcleo Espírita Eurípedes Barsanulfo.
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